Opinião: Earth Girl (Janet Edwards)

Earth Girl de Janet Edwards
Editora: Harper Voyager (2012)
Formato: Capa mole | 358 páginas
Géneros: Ficção científica, Lit Juv./YA
Sinopse.

"Earth Girl" é o primeiro livro de uma trilogia juvenil passada num futuro distante e foi um daqueles livros em que as primeiras páginas me fizeram pensar que talvez fosse pouco mais do que mais uma "pseudo" ficção científica que é na realidade um romance juvenil condenado e woe. Felizmente enganei-me profundamente.

Este livro chamou-me primeiro a atenção quando o blogue Book Smugglers escreveu uma opinião quase totalmente positiva acerca do livro. Quando tive oportunidade, comprei-o e decidi-me finalmente a lê-lo.

"Earth Girl" é um livro com diversas camadas, o que é provavelmente apropriado uma vez que um dos temas sobre o qual versa é exatamente a arqueologia.

Século XXVIII. A Humanidade espalhou-se por múltiplos setores do espaço graças à invenção de portais que podem levar as pessoas a qualquer lado (pensem em... Stargate). Ou melhor, quase todas as pessoas. Uma pequena percentagem da população (cerca de 0,01%) é geneticamente incapaz de sobreviver noutros planetas e é "recambiada" para a Terra onde terá de passar o resto dos seus dias.

Jarra, a nossa protagonista, é uma dessas pessoas. Abandonada pelos pais à nascença, vive na Terra há 18 anos com outros jovens com o mesmo problema.

A Terra não é, claro, o local mais glamoroso para viver. É considerado um local antigo e perigoso (tem grandes alterações de clima, animais perigosos e tempestades solares frequentes!) por quem vive em planetas cuidadosamente escolhidos para serem perfeitos para o desenvolvimento de sociedades humanas. Por isso, grande parte do planeta foi abandonado e reclamado pela natureza. Apenas os que são incapazes de viver noutro lado lá vivem.

Quando li a sinopse deste livro, pensei sinceramente que Jarra, a protagonista, iria descobrir poderes mirabolantes e iria mostrar a todos os outros humanos que era espetacular. E sim, ela fê-lo, mas não com poderes mágicos...

Bem, com isto tudo, o que quero dizer é que a sinopse não me preparou de todo para o livro. Na verdade este não começa muito bem: Jarra, que é alvo de discriminação pelo facto de não conseguir sair da Terra (não direta, claro, mas os "macacos" como são chamados os 0,01% são gozados na comunicação social e geralmente desprezados) decide "vingar-se" inscrevendo-se num curso de "pré-história" (tudo o que vem antes da invenção dos portais) numa universidade fora da Terra (algo que nunca ninguém fez antes) para poder mostrar aos seus futuros colegas (todos pessoas "normais", como ela lhes chama) que é tão boa como eles. Para isso ela cria uma história fictícia sobre como é filha de militares e tudo o mais e lá vai ela para a universidade.

Foi este início que me deixou nervosa e um bocado aborrecida. Pensei que ela se iria apaixonar por um colega e que ia haver muita angústia juvenil. Mas não. 

Na verdade este livro é fascinante porque a autora desenvolve realisticamente o seu mundo através da especialização do curso de Jarra. Ficamos a saber que a após a invenção dos portais, houve um êxodo para outros planetas e que muita da informação e saber se perdeu; e que é por isso que a escavação de cidades na Terra é tão importante. Na verdade muito do livro debruça-se sobre isso, sendo mais um livro de aventuras do que outra coisa. Ficamos também a saber mais sobre como os diferentes setores habitados evoluíram com valores morais e culturais diferentes, que por vezes chocam.

Para além das fascinantes descrições do processo de escavações arqueológicas no século XXVIII (que são bastante perigosas, e geram muita da ação do livro), a autora conseguiu também misturar com mestria um romance subtil (que não tem um protagonismo desmesurado) e o crescimento dos protagonistas, especialmente no que diz respeito à questão da discriminação que é aqui tratada com tacto mas que poderia ter sido um bocado mais desenvolvida. 

Também achei que Jarra era demasiado perfeita, mas de resto gostei bastante da leitura.

Com ação, escavações arqueológicas no seio de Nova Iorque, cheias de perigo, algum romance e ficção científica light, Janet Edwards consegue apresentar-nos uma história envolvente que toca também nalguns assuntos mais sérios como a discriminação, os preconceitos, a perda e as diferenças culturais. Gostaria que a autora se tivesse focado um pouco mais nestes aspetos, mas mesmo assim, "Earth Girl" foi, no geral, uma leitura bastante satisfatória, que foge a muitos clichés da literatura juvenil.    

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