Opinião: Grave Mercy (Robin LaFevers)

Grave Mercy by R.L. LaFevers
Editora: Houghton Mifflin Harcourt (2012)
Formato: Capa dura | 549 páginas
Género: Ficção YA, Fantasia, Ficção histórica
Descrição (GR): "Why be the sheep, when you can be the wolf?
Seventeen-year-old Ismae escapes from the brutality of an arranged marriage into the sanctuary of the convent of St. Mortain, where the sisters still serve the gods of old. Here she learns that the god of Death Himself has blessed her with dangerous gifts—and a violent destiny. If she chooses to stay at the convent, she will be trained as an assassin and serve as a handmaiden to Death. To claim her new life, she must destroy the lives of others.
Ismae’s most important assignment takes her straight into the high court of Brittany—where she finds herself woefully under prepared—not only for the deadly games of intrigue and treason, but for the impossible choices she must make. For how can she deliver Death’s vengeance upon a target who, against her will, has stolen her heart?"
Ler opiniões no Goodreads é sempre interessante; podemos encontrar bons livros desta forma, mas a verdade é que também formamos expectativas e ideias que podem estar muito, muito longe daquilo que a obra é na realidade. Afinal, uma opinião é, acima de tudo, um texto subjectivo sobre um texto subjectivo (especialmente se estivermos a falar de ficção) que é por sua vez interpretado por uma pessoa de forma subjectiva.

Tudo isto para dizer que "Grave Mercy" não foi bem aquilo que eu estava à espera. Estava à espera de um livro interessante (freiras assassinas? Yes, please!), mas juvenil, com uma história romântica lamechas e algo repentina (romance instantâneo, por exemplo). Neste aspecto, o livro surpreendeu-me pela positiva; "Grave Mercy" não só é mais "adulto" do que estava à espera, tendo em conta que a heroína é uma rapariga de 17 anos, como não houve uma atracção fulminante entre os protagonistas, nem, graças aos deuses literários, um triângulo amoroso.

No entanto, devo dizer que não adorei a forma como esta história foi contada. Louvo a autora pela sua pesquisa histórica (fiquei a saber bastante sobre o ducado de Brittany - do qual sabia quase nada) e pela tentativa de criar uma história intrincada, centrada na intriga política da época. E ainda, por tentar introduzir um elemento "sobrenatural" de forma subtil.

Como acontece com tantos livros a ideia era óptima... mas a execução deixou algo a desejar. Para organizar as ideias, vou tentar fazer uma lista do que acho que "correu mal" (como sempre, na minha opinião):

1. A narrativa/escrita: a narrativa é na primeira pessoa do presente. Nunca gostei particularmente desta forma de narrar, porque se penso que uma narrativa na primeira já é difícil de concretizar, então a narrativa na primeira pessoa do presente... é quase impossível, sem que a mesma pareça demasiado descritivo ou impessoal. E a autora, tenho a dizer, não conseguiu tornar este estilo de narrativa empolgante. De todo. À narrativa, certamente como produto do estilo utilizado, falta-lhe emoção e ritmo.

2. Exploração confusa do enredo: a autora teve uma ideia bastante interessante, ao enviar a nossa heroína, Ismae, para a corte de Brittany. E até conseguiu introduzir parte da intriga de forma eficaz, mas houve partes do livro que me pareceram confusas e mal explicadas, como as "provas" que "provavam" que o vilão era... o vilão. As explicações de Ismae e Duval não fizeram grande sentido para mim no que diz respeito ao verdadeiro espião, pode ter-me escapado alguma coisa, mas penso que não provavam grande coisa.

Também houve muito que ficou por explicar, nomeadamente o envolvimento do convento de São Mortain, a intransigência da abadessa e os desígnios do próprio Mortain, no meio daquela salganhada toda. O mesmo se pode dizer das intenções da mãe de Duval e da falta de resolução para a família deste. Basicamente, ficaram muitas pontas por atar.

3. Falta de protagonismo: das personagens. O "cast" deste livro é bastante grande, desde as amigas da Ismae e das freiras até ao Duval, aos seus amigos e à sua família. Nenhuma das personagens é desenvolvida de modo a causar interesse ao leitor devido, mais uma vez, ao estilo da narrativa que é muito virada para Ismae. Acho que não tenho qualquer imagem mental de Duval ou de Anne, dois dos protagonistas.

E falta de protagonismo da própria Ismae, que supostamente é uma assassina e especialista nas artes "ninjas", mas que acaba por ser relegada muitas vezes para segundo plano. Como quando o Duval lhe diz "Ah e tal, tenho de ir à corte ver cenas e tu tens de ficar em casa". What??

4. Exploração incipiente das "capacidades" de Ismae e de toda a mitologia em volta dos antigos deuses e do São Mortain: o período de aprendizagem da Ismae foi retirado do livro. Numa página ela chega ao convento, duas páginas depois já se passaram dois anos e ela foi treinada em montes de coisas... eu compreendo que o livro já seja grande o suficiente, mas a autora incluiu muitas descrições e cenas supérfluas mais tarde, que, na minha humilde opinião, poderiam ter sido retiradas para dar lugar a mais informações sobre o sistema de crenças das freiras. Afinal, a personagem principal é influenciada pelos ensinamentos do convento. Toda a sua vida e personalidade advém do seu treino.

E, mais uma vez, a Ismae é uma assassina que todos respeitam, mas não utiliza assim muito as suas capacidades (excepto para ouvir às portas).

E é isto. Foram estes os aspectos que me incomodaram neste livro. Por outro lado, fiquei agradavelmente surpreendida pela complexidade da ideia da autora para o enredo. Este mistura história, acção, romance e intriga de forma mais ou menos balançada. Só é pena é que o estilo de narrativa não faça muito para criar uma ligação entre o leitor e as personagens.

No geral, "Grave Mercy" é um livro com todos os ingredientes para se tornar numa leitura agradável. O enredo, a mitologia e o local e época são intrigantes e, se tivessem sido explorados de outra forma, penso que esta teria sido uma das minhas leituras favoritas este ano. Ainda assim é um livro interessante e recomendado para quem gosta de romances históricos com alguma intriga política. E foi um livro de que gostei, apesar da irritação que me causaram alguns aspectos.

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