13 outubro 2012

Opinião: Feed (Mira Grant)

Feed by Mira Grant
Editora: Orbit (2010)
Formato: Capa mole | 599 páginas
Géneros: Fantasia Urbana, Ficção Científica, Thriller
Descrição (GR): "The year was 2014. We had cured cancer. We had beaten the common cold. But in doing so we created something new, something terrible that no one could stop. The infection spread, virus blocks taking over bodies and minds with one, unstoppable command: FEED. Now, twenty years after the Rising, bloggers Georgia and Shaun Mason are on the trail of the biggest story of their lives - the dark conspiracy behind the infected. The truth will get out, even if it kills them."
Estou para aqui a pensar o que dizer acerca deste livro. A primeira coisa que me ocorre é: não aprecio histórias com zombies. Penso que já disse isto antes, noutra opinião sobre outro livro com um tema semelhante, mas é verdade. Apesar de gostar muito de livros de fantasia e de ficção científica, este tipo de histórias não são "a minha onda". Pouco se pode fazer com zombies: eles existem, os sobreviventes fogem e acaba tudo com muitos gritos e gore.

Mas, de vez em quando, surge um livro como "Feed". Um livro que parece tão interessante que me sinto compelida a lê-lo, mesmo não gostando particularmente do tema.

Para os fans do género: "Feed" não é, de todo, sobre os zombies. "Feed" é mais um thriller político que se passa num futuro pós-apocalíptico do que a típica história de um grupo de heróis a resistir corajosamente e a tentar agarrar-se à sua humanidade. Claro, os zombies estão lá; mas como diz uma das personagens, eles não são a história; são o background, as circunstâncias, parte integrante e inevitável do mundo em que os protagonistas se movem.

Em 2014, pesquisas médicas levam à criação de vírus que conseguem combater o cancro e a gripe. As pessoas celebram, obviamente. Mas a conjunção destes vírus tem consequências imprevistas: as pessoas infectadas começam a erguer-se depois da morte, focos concentrados de vírus cujo objectivo é infectar mais pessoas. Em breve toda a gente está infectada com os dois vírus, que estão dormentes dentro dos corpos dos seres humanos até ao momento da morte.

Em 2039, a sociedade sofreu alterações radicais: as pessoas passam o tempo dentro de casa e recusam o contacto humano; afinal, locais com muita gente podem ser focos de infecção. Mas a Humanidade sobrevive; os países sobrevivem. Com esta nova realidade, os bloggers tornaram-se uma fonte privilegiada de notícias, uma vez que a Internet se tornou a única forma de socialização possível para muitos.

E é esta a história. A primeira parte será certamente reminiscente do início do filme Eu sou a Lenda... também aí tudo começa com uma cura para o cancro. Mas Mira Grant desenvolve todo um mundo que gira em torno da infecção mortal conhecida como "Kellis-Amberlee". Ao contrário de muitos cenários pós-apocalípticos que envolvem zombies, em "Feed" os governos não caíram e os países não se dissolveram. As pessoas ainda vivem nas cidades e mandam os filhos para as escolas. Muitos vivem em locais fechados, murados e a zonas de convívio são cercadas e vigiadas.
Foram desenvolvidos protocolos de limpeza de focos de infecção (Grant demonstra isto admiravelmente mostrando que as personagens têm de ser testadas de cada vez que entram num novo edifício).

A socialização entre humanos quase desapareceu; as pessoas fazem tudo pela Internet (até mesmo votar no Presidente) o que levou a uma maior proeminência dos bloggers, que tiveram um papel decisivo quando as coisas deram para o torto. Em 2039, os bloggers foram forçados a especializar-se, sendo que alguns se dedicam a reportar as notícias e outros providenciam entretenimento (alguns procuram mesmo zonas proibidas e confrontam zombies).

É neste cenário que os nossos protagonistas, os irmãos adoptivos Georgia e Shaun Mason, bloggers de profissão, vão ganhar o trabalho das suas vidas: seguir um candidato presidencial na sua campanha. O Senador Ryman é o primeiro candidato a permitir bloggers na sua comitiva (estes ainda são mal vistos pela imprensa tradicional).

Em breve, os nossos heróis vêem-se envolvidos no que parece ser uma conspiração de proporções épicas.

Gostei muito. Muito, mesmo. Estava com um certo receio de ler este livro pelas razões já mencionadas e porque tinha lido em algumas opiniões que a escrita era densa e difícil, mas adorei. O mundo está muito bem desenvolvido e é original o suficiente. Sim, os zombies são uma ameaça real, mas a Humanidade consegue, ainda assim, sobreviver.

As personagens é que me desapontaram um bocado. O vilão é demasiado extremo. Georgia é a narradora durante a maior parte do livro e sinceramente não gostei muito dela (era demasiado convencida e achava que todos eram idiotas). Shaun narra apenas uma pequena parte do livro mas gostei muito mais da voz dele.

Não posso falar muito do enredo, para não spoilar, mas está excelente. Certos elementos serão, talvez, um bocado corriqueiros (a história de uma conspiração política não é do mais original), mas há algumas voltas inesperadas pelo meio que compensam tudo isto.

A escrita é fluída e lê-se bem, mesmo com as repetições dos procedimentos de segurança e quarentena (que servem, na minha opinião, para mostrar como a sociedade evoluiu face à infecção).

No geral, uma obra interessante, com um enredo intrigante que nos mantém colados às páginas. Não há o "sentido de urgência" que está presente em muitos thrillers, mas o mistério está bem desenvolvido. O ponto fraco são as personagens, que não me interessaram assim muito. Recomendado, especialmente pelo maravilhoso worldbuilding.
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4 comentários:

Diana Marques disse...

Parece-me interessante, mas por acaso pensei que os zombies fossem o cerne do enredo, até pelo título do livro. Mas pronto, não há de ser nada. Consegue cativar-me o suficiente para querer lê-lo :)

slayra disse...

Lol. Acho que tem duplo sentido. :) Esse Feed e Feed de... bem, feed da Internet, de wireless, etc. O.o

WhiteLady3 disse...

Yay livro sobre zombies mas de jeito, ainda que pelos vistos as personagens deixem a desejar. O vilão é muito mau? É extremo do tipo "ruim até ao osso só porque é o vilão" ou extremo de ideais?

slayra disse...

Extremo de ideais. Típico vilão americano, yadda, yadda. xD