Opinião: Eve (Anna Carey)

Eve by Anna Carey
Editora: Harper Teen (2011)
Formato: Capa Mole | 318 páginas
Géneros: Romance, Ficção Científica, Lit. Juvenil
Descrição (GR): "Where do you go when nowhere is safe?
After a deadly virus wiped out most of Earth's population, the world is a terrifying place.
Eighteen-year-old Eve has never been beyond the heavily guarded perimeter of her school, where she and two hundred other orphaned girls have been promised a bright future in The New America. But the night before graduation, Eve learns the shocking truth about her school's real purpose--and the horrifying fate that awaits her.
Fleeing the only home she's ever known, Eve sets off on a long, treacherous journey, searching for a place she can survive. Along the way she encounters Caleb, a rough, rebellious boy living in the wild. Caleb slowly wins her trust . . . and her heart. But when soldiers begin hunting them, Eve must choose between true love and her life."
AVISO: Contém SPOILERS! Apesar dos meus géneros de eleição serem a fantasia e a ficção científica, não é com muita frequência que leio livros passados num futuro incerto. No entanto, as distopias (de que 1984 de George Orwell é um exemplo clássico) sempre me interessaram: porque há tanta coisa que pode correr mal, mesmo com avanços tecnológicos cujo objectivo é facilitar a vida das pessoas. É também interessante ler como é que autores de ficção idealizam um mundo pós-apocalíptico. Estas são as razões que me levam a ler distopias e foi a razão pela qual li "Eve", de Anna Carey.

Bem, suponho que este é um daqueles casos em que tenho de dizer que estava "mesmo a pedi-las". Pela sinopse eu sabia que ia haver romance adolescente para lá metido e mesmo assim... toca de comprar e ler o livro.

Isto não é distopia. Este livro não é sobre uma sociedade pós-apocalíptica, sobre como as pessoas lidam com um mundo devastado por uma doença mortífera que dizimou a maioria da população mundial. Não. Esta é a história do amor conturbado entre uma jovem chamada Eve e um jovem chamado Caleb. 
As inconsistências no mundo criado por Carey são flagrantes e muito fica por responder, exactamente porque o foco é o romance adolescente: será que se descobriu a cura para a Praga? Como é que o Rei da Nova América consegue petróleo quando aparentemente não há contacto com o mundo exterior? Porque é que as professoras das Escolas pactuam com o plano do Rei para utilizar as raparigas órfãs como produtoras em massa de crianças? Porque é que as raparigas recebem uma educação de cinco estrelas se vão ser utilizadas apenas como fábricas de bebés? Enfim, podia continuar...

Eve vive desde miúda na "Escola" (sim chama-se mesmo "Escola") com outras rapariga órfãs. Segundo lhe disseram, está a ser educada para ser uma "mais-valia" na "Cidade da Areia", uma nova cidade que está a ser construída pelo Rei da Nova América (sim, também revirei os olhos perante este mundo construído ao acaso, completamente irreal e bastante ridículo). Um dia antes da cerimónia de graduação, Eve descobre a terrível verdade: foi educada e bem tratada não para ser uma mente brilhante numa nova sociedade mas para a encherem de drogas e a fazerem dar à luz vezes sem conta através de inseminação artificial... afinal é preciso repovoar a Terra. 

Eve foge e claro, encontra o Caleb, que também fugiu de um campo onde o faziam a ele e aos outros rapazes órfãos, trabalhar 14 horas por dia para construir a tal "Cidade da Areia". Basicamente o Rei e os adultos construíram uma nova sociedade "nas costas" dos órfãos. 

Eve e Caleb apaixonam-se, mas oh snap, a Eve foi condicionada para desconfiar de todos os homens (o porquê de tal educação nunca é claramente explicado) e isso é um entrave. E depois quando um dos amigos do Caleb decide fazer uma Coisa Muito Má à Eve, o nosso herói tem o atrevimento de acreditar que a Eve possa ter querido que tal acontecesse. Em vez de o mandar à fava a Eve desata a chorar. 

Por isso em vez de explorar este mundo distópico que apresenta bastantes inconsistências, que poderiam no entanto, ser explicadas com uma construção mais cuidada do mesmo, a autora apresenta-nos cerca de 300 páginas de romance adolescente. 

Para ser justa o Caleb até é um rapaz decente na maioria das vezes (excepto naquela cena que referi), não persegue a Eve nem é possessivo demais como parece ser moda. Pelo contrário, a Eve é francamente burra e faz coisas que não cabem na cabeça de ninguém, dada a situação (estando ela em fuga e tudo o mais).

Apesar da autora se focar no romance e não no (consideravelmente mais interessante) mundo distópico, no final do livro não senti que os protagonistas se amassem realmente. Ou seja, o romance também não me convenceu, as emoções não foram descritas de forma realista.

Não consegui identificar-me com nenhuma das personagens, que me pareceram bastante mal desenvolvidas e muito pouco carismáticas. As descrições das personagens, dos lugares e do mundo em geral são tão vagas que não tenho imagens mentais de nada nem ninguém.

No geral, uma obra pouco memorável com um enredo fraco e um mundo que parece ter sido construído apenas para que os protagonistas pudessem viver a sua história de amor sem sal. Não me parece que tenha havido um esforço por parte da autora, de explorar a sua história convenientemente. Não existem momentos de tensão, momentos de suspense ou vilões verdadeiramente interessantes. Sobre este mundo pós-apocalíptico pouco ou nada se sabe. As personagens são bidimensionais e pouco interessantes. Não recomendado.

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